04 novembro 2008

Novo recomeço para o ver(bo) ver...

22 maio 2007

19 maio 2007

Press Release


Possible

Acreditar naquilo que não podemos apreender
é mais real que aquilo que nós podemos apreender


Simone Weil

Curadoria
Ana Luísa Barão

Artistas
Ana Guedes
Ana Torrie
André Alves
Carla Capela
Carlos Pinheiro
Dinis Santos
Emanuel Santos
Marta Bernardes
Nuno de Sousa
Pascal Ferreira


Inauguração a 26 de Maio
19h-23h
Patente até 29 Julho 2007
Entrada gratuita


CAPC, Círculo de Artes Plásticas. Parque de Santa Cruz
de Terça a Sábado: das 14 às 19.00horas
tel. 239 401764 e-mail. capc@ip.pt


Para mais informações, por favor contactar Ana Luísa Barão através do e-mail analuisabarao@gmail.com ou tlm. 938563118.


_exposição

Os projectos apresentados resultam de uma proposta feita a nove artistas seleccionados pela comissária Ana Luísa Barão. Pretendia-se que desenvolvessem os seus projectos partindo da leitura do romance de Henrique Vila-Matas, História abreviada da literatura portátil e de ideias como o carácter portátil dos objectos, a sua transportabilidade, as noções de embalagem, invólucro ou caixa, a ideia de colecção ou do que é coleccionável, os mecanismos de fuga à realidade, o que é verdadeiro ou falso, a ficção, o efémero, o logro e a prova falsa, o acto fraudulento, etc.

Através da instalação, do vídeo, do desenho e da fotografia estes artistas exploram um universo em que a história é encarada enquanto construção de sucessivas ficções, onde o conceito de irrealidade se mescla com a factualidade ou a simulação.

Recorrendo a exageros e distorções lógico-linguísticas, só alguns indícios, por vezes dissimulados, ajudam a clarificar o verdadeiro sentido do expresso. Este jogo semântico é utilizado como estratégia de criação de não-sentido ou de um sentido-outro nos projectos de Nuno Sousa, Carlos Pinheiro, André Alves e Marta Bernardes/Dinis Santos. Numa diferente perspectiva, a ironia é usada como dispositivo de simulação, que no caso dos projectos apresentados por Carla Capela e Emanuel Santos, fazendo referências directas e indirectas a questões práticas do quotidiano, transformando o próprio espaço do objecto numa entidade passível de ser portátil. Nas instalações de Ana Guedes, Pascal Ferreira e Ana Torrie o espaço expositivo é sobretudo um lugar em que se acredita que apenas as coisas mínimas permitem uma vivência intensa e que tudo é simultaneamente susceptível de se tornar portátil, objecto de culto em potência, que pode ser escolhido, fabricado ou simulado, e nesse sentido coleccionável.

_obras

Ana Guedes
Portable cinemas advanced kit – Paradise Edition, 2007
Estrutura metálica, lona, carrinho de golf, e projector super 8 Super Cinexin
Carrinho de golf: 66x116x85
Estrutura: 100x100x300 cm

André Alves
Apaixonei-me por uma longínqua distância, 2007
Vídeo; 03'15"; cor, som.
Instalação (materiais diversos)
Dimensões variáveis;

Ana Torrie
Se bem me lembro..., 2007
Caneta, ecoline e tinta-da-china sobre papel
Dimensões variáveis

Carla Capela
Lugar de estacionamento portátil, 2006
Impressões a cores, tapete de borracha e Vespa pk de 1991.
Dimensões variáveis

Carla Capela
O meu Castelo de Areia, 2006
Impressões a cores, areia, contraplacado marítimo, dobradiças, fechos, cerâmica cozida
Dimensões variáveis

Carlos Pinheiro
Pensare, 2007
Grafite, papel
Dimensões variáveis.

Emanuel Santos
Vitrina portátil (biblioteca), 2006
Madeira, cartão, tinta acrílica
34x24x21,5 cm

Emanuel Santos
Vitrina portátil (galeria), 2006
Madeira, cartão, tinta acrílica
34x24x21,5 cm

Emanuel Santos
Vitrina portátil (filatélica), 2007
Madeira, cartão, tinta acrílica
34x24x21,5 cm

Emanuel Santos
Espaço cenográfico portátil, 2006
Madeira, tinta acrílica
32x20x20 cm

Marta Bernardes
S/título, 2006
Vídeo digital, Mini DV, DVD

Dinis Santos/ Marta Bernardes
S/título, 2005
Vídeo digital, Mini DV, DVD

Nuno de Sousa
Livro Aberto, 2006
Livro encadernado, plinto, 50 folhas arrancadas do livro; desenhos a tinta-da-china sobre papel
Livro (21,3x14,7 cm); Plinto (100x25 cm); 90 Desenhos (área total: 250x75 cm)

Pascal Ferreira
Tenho a certeza que maior parte das vezes fico para sempre perto de ti, 2006
MDF, Madeira Pinho, Metal, Resina de Poliuretano, Areia, Esmalte Forja.
90x160x70 cm


_biografias


Ana Guedes nasceu em Braga em 1981. Entre 1986 e 2001 frequentou o Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, onde obteve o 8º Grau de Piano e o 3º de Violoncelo. Licenciou-se em Artes Plásticas – Escultura pela FBAUP em 2004. Entre 2003 e 2004 frequentou, enquanto bolseira Erasmus, a FBA da Universidade de Barcelona. Entre 2004 e 2005 frequentou também aulas de piano na Escola de Jazz do Porto. Desde Outubro de 2005, frequenta o Mestrado de Artes Visuais – Intermédia na Universidade de Évora onde apresentará tese orientada por Pedro Portugal. Participou em vários Workshops: Improvisação orientado por Óscar Marcelino da Graça no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga (2004); Workshop de História do Jazz orientado por José Carlos Santos, na Associação Cultural “Velha-a-Branca”, Braga (2004); Workshop “One Minute Sound”, orientado por André Neto no âmbito do Ovarvídeo – 11º Festival de Vídeo de Ovar (2006). Participou em várias Exposições: “Contra os Péssimos Hábitos” dos alunos do 3º ano de Escultura no Espaço de Intervenção Cultural “Maus Hábitos”, Porto (2002); “Transfigurações – por uma narrativa autoreferencial”, Museu da FBAUP (2004); “Blue Screen” na Galeria do Palácio de Cristal, Porto, (2005) e em “Narrativas” na Galeria Sete, Coimbra, (2006).

Ana Torrie nasceu no Porto em 1982. É aluna finalista do curso Artes Plásticas - Escultura da FBAUP. É membro do colectivo artístico “Senhorio”, onde tem participado e editado em grupo e individualmente vários fanzines que abordam a área do desenho, BD e ilustração: “C(r)oquete”, “Busto” , “Álbum de família”. Participou também nas exposições organizadas pelo Senhorio: “Pintado à mão”, Senhorio, Porto (2005); “Menino da lágrima”, Artes em Partes, Porto, (2005). É membro do grupo de intercâmbio cultural “Identidades” desde 2004.

André Alves nasceu em Gaia em 1981. Licenciou-se em Artes Plásticas – Pintura pela FBAUP em 2005 e frequenta o Mestrado em Ensino das Artes Visuais (FPCEUP/FBAUP). Premiado para o programa "6 th Artist in Residence" no espaço artístico Hotel Mariakapel (2006) e "gARBa – Young artists in residence in Basilicata" em Montescaglioso (2004). Foi membro do grupo de intercâmbio cultural "Identidades" entre 2002 e 2005. É membro do colectivo artístico "Senhorio", onde tem participado e editado em grupo vários fanzines que abordam as áreas do desenho, BD e ilustração: "Pingue", "Busto", "Mister". Das exposições em que participou destaca: "O estado novo que é o antigo" na Reflexus Arte Contemporânea (2007) "Coisa, controlada pelo medo de Identificação" no In.Transit, um project room de Paulo Mendes (2007); "Como ser Invisível" no Museu da Sociedade Martins Sarmento (2006); "Different Places" no Westfries Museum, Hoorn (2006); "All my independent Women I, II & III" uma colecção de trabalhos feministas comissariada por Carla Cruz, em Guimarães, Braga e Lisboa (2005/06); "Aunt Nell Gis" na Kunstvlaai 06 (2006); "3 Large Drawings" no Hotel Mariakapel (2006); "Pintado à mão" no Senhorio (2005); "Fechado, 27 Artistas, Uma Casa a Demolir" e "Projectos Transportados" no Laboratório das Artes (2005).

Carla Capela nasceu em Espinho em 1980. Licenciou-se em Artes Plásticas – Escultura pela FBAUP em 2004. Entre 2003 e 2004 frequentou, enquanto bolseira Erasmus, a Faculdade de Belas Artes da Universidade de Barcelona. Participou em vários Workshops: Workshop de Animação promovido pelo Cinenima, Espinho, (1995); Workshop internacional de Escultura “Statique/Mobile” em St. Hippolyte du Fort, França (2004). Participou em várias Exposições: “Contra os Péssimos Hábitos” no Espaço de Intervenção Cultural “Maus Hábitos”, Porto, (2002); “Rebuçado” em parceria com Christopher King e Tommy Tang na “Papabubble”em Barcelona, Espanha, (2004); “Transfigurações – por uma narrativa autoreferencial” no Museu da FBAUP, (2004); “Mns Ideias no Lugar” no Museu Nogueira da Silva, Braga, (2004); “Statique/Mobile” em St. Hippolyte du Fort, França, (2004); “Unsupportable reality” na Galeria “Meno Parkas” em Kaunas, Lituânia (2004); “Olhar pró Boneco” no Espaço de Intervenção Cultural “Maus Hábitos”, Porto, (2005); “Entre o Corpo” na Galeria Sete, Coimbra, (2006) e “Sr. Cavaleiro Andante” no Espaço de Intervenção Cultural “Maus Hábitos”, Porto (2006).

Carlos Pinheiro nasceu no Porto em 1981. Licenciou-se em Artes Plásticas – Escultura pela FBAUP em 2004. Foi membro do grupo de intercâmbio cultural “Identidades” entre 2000 e 2004 onde organizou e participou em várias exposições, workshops e intervenções em espaço público em Moçambique, Cabo Verde, Brasil e Portugal. Em 2005 e 2006 realizou em parceria com Mónica Faria a cenografia e figurinos para “A Festa de Spiro Scimone” e “Antskupananabra, Sketches de Karl Valentim” na Companhia Teatral Comédias do Minho. É membro fundador do colectivo artístico “Senhorio”, onde tem participado e editado em grupo e individualmente vários fanzines que abordam as áreas do desenho, BD e ilustração: “Barba”, “Pingue”, “Busto”, “A Fome Faz Sair o Lobo do Mato”, “- Não me contes o fim. - Eles morrem todos!”. Trabalha actualmente com a Galeria MCO Arte Contemporânea. Participou em várias exposições com destaque para: “Espaço de Liberdade Experimental”, trabalho colectivo realizado no âmbito da exposição Outros Lugares, FBAUP/FDUP, FDUP. (2004); “Pintado à Mão”, Exposição de Sócios do Senhorio. Senhorio, Porto, (2005); “Salvia Oficinallis”, exposição realizada em conjunto com Marta Bernardes. MCO Arte Contemporânea, espaço Living Room, Porto. (2005); “A Pattern of Isllands”, exposição integrada na colectiva “Olhar para o Boneco”. Maus Hábitos, Porto, (2005); “Ocelos”, SMUSEUM, MCO Arte Contemporânea, Porto, (2006); “Wall Paper”, exposição Colectiva de Desenho no espaço Stock Hause, MCO Arte Contemporânea. Porto, (2006).

Emanuel Santos nasceu no Porto, em 1980. Licenciou-se em Artes Plásticas – Escultura na FBAUP, (2006). É membro fundador da Associação Cultural “Senhorio”, formada em 2004, e que funciona como espaço de reflexão, concretização e divulgação de práticas artísticas. Integra o Grupo de Teatro da Faculdade de Belas Artes do Porto desde 2001, onde actualmente desempenha os cargos de Encenador/Actor/Cenógrafo. Participou em várias exposições colectivas: Exposição colectiva de Escultura, Espaço Maus Hábitos, Porto (2002); “Outros Lugares”, na Faculdade de Direito (FDUP), Porto, (2004); “O menino da lágrima”, “Senhorio”, Porto (2005).

Dinis Santos nasceu em São João da Madeira em 1983. Frequenta actualmente o 5º ano de Pintura da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Realizou vários workshops e trabalhou como assistente de montagem na Fundação de Serralves.

Marta Bernardes nasceu no Porto em 1983. Licenciou-se em Artes Plásticas – Pintura na FBAUP em 2006. Nesse âmbito desenvolver vários projectos que variam entre o desenho, a acção, a performance, e o objecto. Tem desenvolvido várias actividades no âmbito das artes performativas e da música: performance de António Preto e Catarina Felgueiras no Siloauto (Porto) no contexto do ”Danças na Cidade”, Nec, em colaboração com João Sousa Cardoso (2004); integrou o grupo de poesia Gaixa Geral de Despojos apresentando recitais no teatro do Campo Alegre e nos jardins do Palácio de Cristal (2004). Pertence ao colectivo “Senhorio” onde participa como co-fundadora e colaboradora nos Fanzines: “Barba”, “Pingue”, ”Croquette”, “Busto”. Integra o projecto de cancionetismo “ Senhor Doutor “ juntamente com Nuno Sousa, Sérgio Martins, Rui Lima, Ana Ulisses e Sérgio Seabra, cujas últimas aparições aconteceram respectivamente no espaço Maus Hábitos, no âmbito do encerramento da exposição "Olhar para o boneco" apresentando o espectáculo " Recital em si próprio" (2004) e no espaço 555 apresentando “Recital em dó mino” (2005). O “Senhor Doutor” apresentou ainda o espectáculo “Recital em lá longe” no espaço Passos Manuel, Porto, (2006). Participou em várias exposições “100 desenhos: Fricção, Impressão, Diluição”, Maus Hábitos / Corpus Christi, Vila Nova de Gaia; “Living Room” da Galeria MCO (2005); “ Salvia - Officinallis” em parceria com Nuno Sousa na MCO, (2005); “Menino da lágrima”, Espaço Artes em Partes, Porto, (2005); “Pintado à mão”, Senhorio, Porto, (2005); Espectáculo multimédia “SONO” no Auditório do Museu de Serralves, Porto, Programa paralelo à Exposição “ Caminho do Leve” de E. M. Melo e Castro; Performance “Díptico” com Mónica Faria e António Preto no “Serralves em Festa”, 2006 e finalmente a performance “Sacrifício de verdade” e o vídeo “Ocidente”Galeria MCO, Porto (2006).

Nuno de Sousa licenciou-se Artes Plásticas – Escultura pela FBAUP (2006). É membro co-fundador do colectivo artístico “Senhorio” desde 2004, no qual tem participado na produção e publicação de vários fanzines ligados à área do desenho, BD e ilustração. Integra como compositor, letrista e intérprete os projectos musicais “Stowaways” e “Sr. Doutor”, contando já com diversas actuações nacionais nomeadamente: concertos transmitidos em directo para a Antena 3 e Sic Radical; participação nos Festivais de Verão de Vilar de Mouros e Paredes de Coura, Festival do Tejo, Festival de Pedrógão Grande, Festival de Carviçais; concertos em várias salas de espectáculos, com destaque para Teatro Sá da Bandeira – Porto, Teatro Campo Alegre – Porto, Café Concerto do Teatro Rivoli – Porto (integrado no Festival Fantasporto 2004), Tertúlia Castelense – Castelo da Maia, Cinema Passos Manuel – Porto, Hard Club - Gaia, B Flato – Matosinhos, Espaço Maus Hábitos – Porto, Casa das Artes – Arcos de Valdevez, Casa das Artes – Famalicão, Santiago Alquimista – Lisboa, Espaço Clinic – Alcobaça, entre outros. Participou em várias Exposições: “Outros Lugares - FBAUP/FDUP”, com o trabalho “Espaço de Liberdade Experimental”, Faculdade de Direito da Universidade do Porto, Porto, (2004); “MNS ideias no lugar”, Museu Nogueira da Silva, Braga, (2004) “Olhar P’ró Boneco”, trabalho “As cartas não coram”, Espaço Maus Hábitos, Porto, (2005); “Inclinações Territoriais”, MCO - galeria de arte contemporânea, Sala “Chez Duchamp”, Porto (2005); “Pintado à mão” , Espaço “Senhorio”, Porto, (2005).

Pascal Ferreira nasceu em Paris em 1971. Vive e trabalha na cidade do Porto. Licenciou-se em Artes Plásticas – Escultura, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, em 1996. Actualmente lecciona, como assistente do Departamento de Escultura, nesta mesma faculdade. Participou em várias exposições individuais: “Como é bom Cagar no Campo: férias no Alentejo” e “S. Pascalino”. Galeria EXTERIL, Porto, (2002); Projecto “Estarrecidos, Esbugalhados e afins...”: contacto nº1 – “O apalermado”. Galeria EXTERIL, Projecto “Mais Hábitos”, CASA das ARTES, Porto, (2003); Projecto “Estarrecidos, Esbugalhados e afins...”: contacto nº 2. Galeria Exteril, Porto. (2003); Projecto “Estarrecidos, Esbugalhados e afins...”: contacto nº5 – “Fostes tu?!”. Evento “15 minutos de FAMA”, Galeria Exteril, Porto. (2005); “Tudo sobre roda...”. Galeria VPF cream arte, Lisboa, (2006) e “Quem vai ao ar perde o lugar...”. Projecto “Show Cage”, Papelaria Papélia. Porto, (2006). Participou igualmente em várias exposições colectivas com destaque para: Projecto “Pascalito” – história nº1: “esta é uma história, uma história do Pascalito que era dono de uma Sucata”. Espaço Maus Hábitos, Porto (2001); “Se fores realmente amigo, não mexes no botão!..., uma história que fala de um menino que vai salvar...”. Projecto “Fictional Buzzing”, Espaço Artmosferas, Porto, (2001); Projecto “Pascalito” – história nº2: “esta é mais uma história, a história da Menina do Regador”. Projecto “In.Bloc”, Espaço Maus Hábitos, Porto, (2001); Projecto “Estarrecidos, Esbugalhados e afins...”: contacto nº0 – “Macaquinhos do Sótão”. Espaço Maus Hábitos, Porto (2002); Projecto “Pascalito” – história nº3: “projecto para uma Vida Simples”. Espaço Maus Hábitos, Porto. (2003) e Projecto “Estarrecidos, Esbugalhados e afins...”: contacto nº3 e 4. Projecto ”Olhar pró boneco”, Espaço Maus Hábitos, Porto, (2005).
Possible - Círculo de Artes Plásticas de Coimbra [CAPC]

28 dezembro 2006

3+3 na Galeria Sete - Coimbra

A GALERIA SETE inaugurou no dia 16 de Dezembro a exposição “3+3”, apresentando propostas distintas para cada um dos pisos da galeria.
No primeiro piso podem ser vistas obras de três artistas que expõem neste espaço pela segunda vez: Célia Domingues, Miguelangelo Veiga e Pedro Falcão. Da instalação ao vídeo, da pintura ao desenho, exploram-se conteúdos tão distintos como as relações de género ou as fronteiras híbridas entre o desenho e a pintura, expressas num imaginário em torno da paisagem urbana e suburbana e de universos de energias não controladas.

No piso inferior, o projecto de intervenção artística “Ficha Tripla” pretende interagir com o público e com o espaço expositivo. João Galrão, Pauliana Valente Pimentel e Susana Guardado exploram o conceito de “Evento Social”, os seus significados e as suas fronteiras com a arte, integrando uma performance musical ligada às novas tecnologias, escultura e fotografia.


Célia Domingues


Strategie de la Rupture. Ditos e Interditos de um Divórcio,
2006

Canas, rolhas, câmaras de ar, vidro, papel, madeira
45 x 220 x 190 cm



“O tema do divórcio é áspero, tem arestas. Sugere mal-estar, sofrimento. Representa o oposto da ideia positiva associada ao enamoramento e à paixão. Significa o fim de uma promessa, de um projecto, da partilha de um ciclo de vida”.
Anália Cardoso Torres


“Cortar amarras. Uma tentativa de compreensão da realidade”

Casamento, compromisso, acordo, união, partilha, divórcio, ruptura, irresponsabilidade, falha, desunião são alguns dos conceitos explorados por Anália Cardoso Torres no livro “Divórcio em Portugal, Ditos e Interditos: uma Análise Sociológica”e que serviram de ponto de partida para o projecto “Strategie de la Rupture. Ditos e Interditos de um Divórcio” de Célia Domingues. Ao longo da investigação, a socióloga foi realçando o papel dos silêncios, daquilo que não se diz e que designa de zonas opacas, em que cada uma das partes encerra os momentos que se prefere não partilhar. Estes interditos ou zonas cinzentas em que não existe a claridade dos factos são espaços circunscritos onde se aglutinam sentimentos opostos e se encobrem angústias. Esta noção de silêncio auto-incutido assume na instalação de Célia Domingues o formato de uma jangada unipessoal, nela só um dos dois se poderá sentar. Trata-se uma estrutura de sobrevivência para quem deseja começar da estaca zero. A jangada assume-se como suporte possível para a fuga. Sobre todo o processo, o espectador acede apenas ao título da instalação. A construção que daí poderá surgir conduzi-lo-á a analogias neo-românticas - a mensagem de amor que é lançada ao mar. Mas aqui, essas mensagens são privadas e estão sobre a jangada interditas ao olhar curioso. Não se tratam de supostas mensagens de amor, mas de elementos de esperança, neste momento inacessíveis para que um dia alguém possa perceber o que se passou.


Miguelangelo Veiga


Miguelangelo Veiga
2006

Grafite e tinta-da-china sobre papel


Encenado no espaço galeria como no seu próprio atelier Miguelangelo Veiga parte de formas, sombras e textos, fruto de investigação visual e literária para desenhar um percurso
que o conduz às pinturas que apresenta como parte deste projecto. Texto e desenho assumem igual importância. Ambos funcionam como base da informação que conduz à pintura. O desenho é o processo, uma espécie de manual daquilo que é a pintura para Miguelangelo. A depuração surge depois, como fórmula de acessibilidade para quem observa a instalação. Um olhar atento detectará incorrecções de perspectiva que são intencionais e descontraídas. Para o autor, as formas correctas, as que seguem as leis da perspectiva ou quaisquer outras normas impositivas são um beco sem saída e é muito mais interessante desenvolver um percurso a partir de um suposto erro de observação, do que lidar com pretensas formas perfeitas. A desconstrução e descaracterização presente, parte do volume tridimensional para além da forma plana, num processo em si mesmo circular. Não se trata da representação de plantas, como à primeira vista poderá parecer, são antes apontamentos da planificação do interior dessas formas tridimensionais.

Pedro Falcão

Pedro Falcão ST18 (da série Expulsão de Energia), 2006
Tinta de água s/ tela
210 x 160 cm













Se nas pinturas anteriores de Pedro Falcão o espectador era confrontado com um ambiente arquitectónico, formalmente minimalista, uma observação mais atenta conduzia ao reconhecimento da existência de pormenores construtivos que o autor identificava com letras do alfabeto. Nesse caso, os títulos das obras podiam ajudar a fazer a leitura. Letterscape – Paisagem de Letras (da série KBT) é um bom exemplo. O carácter formal e o modo como se sobrepunham e interceptavam as letras pintadas numa mesma cor sobre o que aparentava ser uma linha de horizonte insinuava esse mesmo engano. O trabalho que agora apresenta é muito diferente desta geometria tipográfica rigorosamente delineada. A contenção a que este trabalho obrigava levou o artista e enveredar por uma diferente opção onde a explosão das energias, anteriormente contidas, é sobremodo visível. A linearidade deu lugar à sinuosidade irregular, o carácter plano das superfícies à rugosidade empastada dos materiais. As referências são as mesmas, mas a analogia surge agora de forma mais diluída.

Ficha Tripla
Susana Guardado/João Galrão e Pauliana Valente Pimentel

Ficha Tripla é um projecto que começou a desenhar-se há cerca de um ano, mas que apenas nesta exposição ganhou corpo. O elemento central é o conceito de happeninig que os três artistas com projectos distintos apresentam.

Pauliana Valente Pimentel
Pauliana Valente Pimentel
S/ título (da série Finalmente), 2006
Impressão digital sobre papel fotográfico
32 x 42 cm


Fotografa documental, apresenta com este projecto um olhar sobre a performance de travestis na discoteca Finalmente em Lisboa. À fotografa interessa não o lado decadente que esta actividade possa sugerir e que normalmente é explorado pelos média, mas o lado "bonito", glamouroso, o ritual da transformação. O contacto frequente com o meio levou-a a criar uma ligação de maior intimidade com algumas destas personagens. Esta relação de fascínio deu-lhe acesso não apenas ao palco, mas aos bastidores, à intimidade familiar e domestica, à sensibilidade, ao dia-a-dia, que fotografou sem saturar as personagens.

João Galrão

João Galrão
S/ título (da série Afterhours), 2006
Esferovite, gesso, gaze médica, massa mineral, plástico
(tampas e caricas), esmalte, verniz acrílico e luz
100 x 70 x 20 cm








Quando expôs individualmente pela última vez na Galeria Graça Brandão falei da dimensão discursiva das formas e que essa discursividade se prendia com o universo musical. Na exposição realizada
em Vila Nova de Cerveira – After Hours em 2005, as peças de Galrão tinham ganho uma estridência psicadélica e a luz que reflectiam foi sincronizada ao ritmo de músicas seleccionadas pelo autor. Seguindo esta mesma linha de intervenção, João Galrão apresentou na Sete After Hours com a mesma estridência psicadélica que conjugou com a performance musical encenada por Susana Guardado.



Susana Guardado
(da série Sign your name across my heart), 2006
Chumbo e tecido
25 x 25 x 15 cm

O projecto de Susana Guardado mantém o observador, que aqui ganha estututo participativo, no universo da música. A performance musical que apresentou aglutinou todos os projectos presentes no piso -1 da Sete. Na sua instalação, os corações colocados sobre almofadas delicadamente reflecte a importância da música como um dos elementos essências da sua vivência. Neles foram gravados alguns dos títulos de músicas que marcaram a discografia do século XX: Summertime, Bang Bang, Edelweiss, etc.


Links com interesse:

http://www.joaogalrao.blogspot.com/

http://www.artecapital.net/criticas.php?critica=38

http://afrontamentos.multiply.com/

http://www.lightstalkers.org/paulianavalentepimentel

http://www.programacriatividade.gulbenkian.pt/arquivo_fotografia_detalhe.asp?id=pauliana_valente_pimentel&num=39&area=arquivo

www.myspace/paulianaphotographer.com

http://www.pedrofalcao.com/


Créditos Fotográficos

Todas as fotografias são da autoria de Ana Luísa Barão exceptuando
as fotografias de Pedro Falcão e "Slow motion" de João Galrão que foram cedidas pela Galeria Sete e
as fotografias
da série "Finalmente" de Pauliana Valente Pimentel cedidas pela própria artista
as fotofrafias de Célia Domingues foram cedidas pela própria artista

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21 novembro 2006

O VERBO é dos Artistas / Filipe Figueiredo



A reprodução de texto e imagens foi autorizada pelo fotográfo Filipe Figueiredo

Times of India­_Holding Emotions é um projecto de fotografia de viagem que procura ser uma reflexão em torno dessa categoria fotográfica, numa tentativa de desconstrução do paradigma da imagem captada única e exclusivamente na experiência do lugar, inventando a possibilidade da sua captação a posteriori, num acto elíptico de revisitação do acto de viajar. O destino da viagem em causa é a India, mas poderia ser qualquer outro. A Viagem implica entrega, devoção, sagrado, liberdade, esforço, alienação. Na India encontro tudo isso! O processo utilizado recorre ao video como método primeiro da captação que, posteriormente, dá lugar à reanálise da experiência e consequente registo do frame significativo. Com o vídeo, registado sem outro pressuposto que não o da memória imediata, sem programa, sem missão, permito-me refazer a viagem, sempre, uma e outra vez. Com esse vídeo, torno, já longe, ao lugar original, à experiência primeira, ao mesmo tempo que a transponho. Faço-o, primeiro que tudo, através da memória das emoções que, a seu tempo, vai sendo contagiada pelo acto de rememorar, impregnada pelos odores, pela luz e pelos sons do lugar em que o faço. Entendo que a verdade da experiência está desde logo inquinada pela sua forma de arquivo, donde nunca há documento que não seja falso. Assim, consciente da natureza interpretativa, ficcional e subjectiva do acto fotográfico, permito-me reinventar, à distância, o registo gráfico da experiência. Sempre que olho os documentos aí produzidos, perscruto todo um mar de emoções - cheiros, luzes, sons - processadas ininterruptamente pela minha memória. Já no regresso, o primeiro olhar sobre o material videográfico produzido é duplamente o visionar de uma crónica anunciada e um acto germinal na construção da memória. Neste sentido, a análise cuidada da sequência vídeo e o processo de captação / retenção do frame significativo estabelecem uma clara analogia com o acto fotográfico in loco, ao mesmo tempo que o olhar sobre as imagens vai acrescentando e enriquecendo a memória e, por vezes, transformando-a, resultando daí, não raro, memórias que já pouco devem à experiência original. Em suma, o video é aqui entendido como matéria virgem visual sobre a qual se processa um novo acto fotográfico.
© Filipe Figueiredo http://www.tempea.net/portfolio_filipefigueiredo_htm


































































































































































































30 outubro 2006

Mário Vitória - “SMVSEVM” na MCO (Porto)

O desenho, instrumento base deste projecto, gerador do imaginário que caracteriza as pinturas e gravuras de Mário Vitória, é da ordem do metafísico e está muito próximo da narrativa dos contos populares – na referência constante à tradição, usos e costumes – da sátira político-social ou mesmo da caricatura.

As referências são múltiplas, mas os Caprichos de Goya são talvez os mais próximos. Atingir o mais profundo âmago humano, a sua ontologia, a essência primitiva, naquilo que torna o Homem indistinto do Ser animal, parece ser o principal objectivo do artista. A representação de animais domésticos, que ora se exprimem em emoções e gestos humanos, ora na sua condição de bestas sob a dominação humana, o significado dos gestos ou a expressividade dos olhares, levam o espectador ao universo imaginário da fábula, das metáforas e das alegorias. Nas fábulas os personagens são geralmente animais que reflectem uma lição moral. Aqui a mensagem tem também um fundo moralista e é sobretudo o testemunho de experiências autobiográficas e de uma imagética consequência de uma pesquisa pessoal.

A vitória da debilidade sobre a força, da benevolência sobre a esperteza, o eterno confronto entre o bem e o mal, tudo mascarado por uma subtil violência, pela hipocrisia, presunção ou mesquinhez, transformam estes desenhos em drama irónico.

Várias noções são aqui analisadas. O homem, as coisas, os animais são antíteses das suas próprias propriedades. Enganam pela sua aparente ingenuidade. O espaço que ocupam na composição dita uma hierarquia de possibilidades interpretativas e são parte integrante de uma cosmogonia cujos elementos revelam um profundo sincretismo visual. O significado, esse, apenas, em parte, poderá ser descoberto. Enquanto representação, este imaginário, revela um significado que está para além do que é aparente.

Quer os desenhos-pintura, quer as gravuras, descrevem micro-narrativas fruto da sobreposição de diferentes contextos, episódios e situações, cujo carácter aleatório se revela um lúdico jogo de percepções.

As histórias descritas graficamente representam um mundo real e ao mesmo tempo repleto de fingimentos. Os vários protagonistas são inseridos na composição, que funciona como uma espécie de proscénio, obedecendo a uma ordem sequencial de acontecimentos. O bestiário humano espelha simultaneamente humanidade e crueldade. É nesse espaço fragmentado que tudo se manifesta: desconfiança, ambiguidade, perplexidade, a verdade da realidade e da ficção.

Uma noção de espaço pouco profundo delimitado por um cenário indefinido onde pessoas, animais e objectos se justapõem, e no qual estabelecem redes simbólicas de relações, define a estrutura base das composições. O mesmo espírito preside nas gravuras, mas a sua reduzida dimensão e uma aparente simplificação narrativa elimina esse suporte, transformando-o num vácuo onde o representado parece errar espontaneamente. A centralidade compositiva dos desenhos-pintura é aqui substituída por uma dispersão do figurado.

O facto de não terem sido atribuídos quaisquer títulos a estes desenhos vem reforçar a ideia de uma autonomia interpretativa que qualquer nomeação destruiria e que a dimensão narrativa das imagens, por si só, potencia.

A inexistência de linhas que conduzam a uma leitura do enunciado levam o observador, a partir dos fragmentos figurativos, a delinear os contornos dum enredo que pode estar ou não próximo das intenções do artista. No entanto, a perfusão de elementos, aparentemente desconexos e dispersos na composição constitui um importante ponto de referência para a construção de possíveis analogias. É a composição que rege toda a panóplia de afinidades que os desenhos suscitam.

Tratam-se de narrativas, mas nelas não domina qualquer sequência linear, pelo contrário, a sensação de que o autor faz permanentes avanços e recuos, conduz-nos do fim para o princípio e deste para o final da história. Os retrocessos e avanços são permanentes e jamais consequentes. Em sentido figurado, as notas de rodapé, os complementos directos e indirectos fazem parte de um discurso que se pretende plural e nunca enumerado.


Outros Desenhos
Série

Um Universo de Vácuo Inquietante
[todas as fotofrafias foram cedidas pelo artista # Mário Vitória]


13 setembro 2006

O VERBO é dos Artistas / Célia Domingues

Célia Domingues nasceu em Évora em 1978. Em 1996 vai estudar Escultura para Lisboa na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e quatro anos mais tarde inicia, em simultâneo, o Curso Avançado na Maumaus – Escola de Artes Visuais. Expõe com regularidade desde 2000, onde se salientam as participações em 2005 “Just what is it...#4” no Kunstraum Innsbruck em Innsbruck, ”Inéditos” na Casa Encendida em Madrid. Em 2006 “O Manicómio Doutor Heribaldo Raboso”, comissariado pelo colectivo 21/2 no Museu da Cidade em Lisboa, “Momentos de vídeo-arte português” inserido na Photoespña no Centro Cultural Conde Duque em Madrid e o “AC#10” comissariado pela Filipa Oliveira e Miguel Amado no Espaço AC em Lisboa. Em 2004 realiza uma residência na Casa de Velazquez em Madrid e expõe individualmente pela primeira vez em Lisboa, “Uma rede de Soluções”, comissariada por Luísa Soares de Oliveira, na sala Phaldata.

Tudo pela Pátria, 2002










































Sobre o Projecto
O projecto parte de uma pesquisa em torno dos movimentos femininos criados durante a ditadura salazarista. Em 1937, fundada pela Organização das Mães pela Educação Nacional (OMEN), surge a Mocidade Portuguesa Feminina (M.P.F.), instituição que posteriormente se autonomiza e tem como objectivo a formação nacionalista das jovens. A sua meta é a educação das futuras mães da pátria, a mãe que será responsável pelo “Homem Novo”. A M.P.F. instala-se nas escolas, impondo a todas as jovens estudantes a inscrição e o respectivo pagamento de quota. Só em 1971 os centros da Mocidade Portuguesa Feminina se transformaram em “associações nacionais de juventude abertas à adesão nacional”. As militantes eram divididas por escalões de idade e entre as muitas vertentes formativas era possível encontrar o ensino das malhas, das rendas, dos bordados, do corte e da costura. Existiam também diversas publicações destinadas ao público feminino, entre as quais se destaca a “Lavores e Trabalhos Manuais”, dirigida a jovens estudantes, particularmente do ensino liceal. Aqui era possível encontrar mapas de lavores femininos e textos sobre os bordados tradicionais. Nesta instalação, a autora copia o desenho original de um tapete de Arraiolos, bordado pela sua tia na aldeia de São Gregório, em pleno Alentejo, e cria uma peça em esponja, onde reinterpreta o conceito do tradicional ‘Arraiolos’.

Título: “Tudo pela Pátria”
Ano: 2002
Dimensões: Tapete 0,02mX3mX4m, fotografias 0,2mX0,3m, mapas 0,8mX1m, área de instalação variável
Materiais: Tinta de água, esponja, fotografia, papel


nº4 interior izquierdo, 2002







































Sobre o Projecto
Um trabalho centrado na casa onde a autora viveu durante a sua estada em Madrid, no âmbito do programa ‘Erasmus’. Esta é uma casa de uma mulher já idosa, espaço que incorpora o que no momento envolvia a pesquisa da autora: as relações entre os movimentos femininos de Portugal e Espanha. As imagens apresentadas são, em grande parte, tomadas de posições a que um comum visitante não poderia aceder. À medida que o espaço é mostrado em diapositivos, uma gravação áudio conta o que se ficciona sobre a vida da dona desta casa. Esta ficção é inspirada em relatos (escritos ou orais) de mulheres portuguesas e espanholas.

Tìtulo: “Nº4 Interior Izquierdo”
Ano: 2002
Dimensões: Área de instalação variável
Materiais: Diapositivos e gravação áudio


S/t, 2002






























Sobre o Projecto
Uma viagem que começa em Lisboa rumo ao sul do País, Évora, local onde a família da autora se reúne para mais um almoço. Neste simples encontro de família, as pessoas organizam-se por sexo e idade. Toda esta acção acompanha um outro acontecimento apresentado em texto, no qual é descrito um episódio histórico que teve lugar no Parque Eduardo VII, em Lisboa: a primeira tentativa de revolução feminina do pós 25 de Abril. Nesta tentativa fracassada, três mulheres – as protagonistas – tentaram queimar vassouras, panos do pó e soutiens, símbolos de opressão feminina a que queriam pôr fim. Com muitos homens presentes no local, a manifestação terminou sem que fossem cumpridos os objectivos: perseguidas pelos espectadores masculinos que gritavam “Dispam-nas, dispam-nas”, às mulheres nada mais restou além da fuga.

Título: “Sem Título”
Ano: 2002
Materiais: DVD

Código de seabra, 2003


























Sobre o Projecto
O Código de Seabra era o Código Civil Napoleónico de 1867, que na sua legislação discriminava a mulher em “razão do sexo” e “em razão da família”. Em 1910 sofreu pequenas alterações, benéficas para a mulher, mas na entrada do novo Código Civil, em 1939, tudo o que tinha sido suprimido, regressa. Segundo o Código de Seabra, a esposa devia prestar obediência ao marido. A separação do casal só era possível no caso de “adultério da mulher”. Contudo, para o homem, só em caso de “adultério do marido com escândalo público” seria admitida essa hipótese. Este decreto foi abolido pela Lei do Divórcio, em 1910, mas em 1935, por forte imposição de deputados católicos, o divórcio deixa de ser possível por mútuo acordo e volta a entrar em vigor a lei segundo a qual o divórcio era concedido apenas em função do adultério (no caso do homem só com escândalo público). O retrocesso imposto pelo regime salazarista reintroduziu no Código Civil de 1939 o humilhante poder concebido ao marido de requerer judicialmente a mulher, o que implicava que se a mulher fugisse de casa, o marido podia exigir junto da polícia que esta lhe fosse entregue/restituída, como um objecto. Esta lei só foi abolida em 1967. Nesta instalação, são apresentadas quatro projecções de slides, cada uma delas com uma sequência de imagens. Na primeira, a autora dá a ver uma série de fotografias do seu álbum pessoal, imagens que ilustram momentos vividos em família, na antiga casa da sua bisavó, numa pequena aldeia do Alentejo, bem como o casamento dos seus pais, realizado em Évora. Na projecção seguinte, a autora apresenta fotografias da mesma casa da sua bisavó, mas agora captada no presente (2003 é o ano da realização dessas imagens). A terceira projecção apresenta fotografias do casamento de uma amiga, em 2002. Por último – o único espaço exterior que se apresenta em toda a instalação – fotografias do local onde se encontra a casa da bisavó da autora: São Gregório, uma pequena aldeia no meio do Alentejo, quase deserta, com características semelhantes a grande parte das aldeias desta região.

Título: “Código de Seabra”
Ano: 2003
Dimensões: Área de instalação variável
Materiais: Slides e gravação áudio


Local de encontro, 2004



























Sobre o Projecto
“Local de Encontro” surge no contexto do Euro 2004 e está inserido no projecto colectivo “Selecção Nacional”, no qual uma bola de futebol é o ponto de partida para todos os artistas convidados. A partir da ‘sua' bola de futebol, a autora concebeu um tabuleiro de xadrez onde as equipas são constituídas por figuras de açúcar. O tabuleiro é o ‘local de encontro’ onde o jogo é disputado e o ‘rei’ e a ‘rainha’ dirigem cada uma das equipas.

Titulo: “Local de encontro”
Ano: 2004
Dimensões: Variáveis
Materiais: Bola de futebol, tintas spray, bonecos de açúcar


Ama de Casa, 2004





























Sobre o Projecto
Durante a ditadura salazarista e franquista nasceram em Portugal e Espanha organizações femininas que tinham como função educar as mulheres, as futuras mães da pátria. Dirigidas pelas respectivas elites femininas, enquadradas no contexto político que se vivia em cada um dos países, existe entre as organizações portuguesas e espanholas uma série de pontos em comum. Como exemplo, na informação dirigida ao público feminino, em Portugal, encontram-se revistas como “Modas e Bordados” e “Secção Feminina”, assim como em Espanha se podia encontrar “Y”, “Medina”, “Teresa”, entre outras. Entre muitas receitas culinárias ou conselhos para o lar e para a família, é veiculada informação sobre como reutilizar objectos em desuso ou que por algum motivo pudessem existir em excesso no lar. Reutilizar pode fazer com que um vestido velho se transforme numa nova saia ou que as simples molas da roupa ganhem outras funcionalidades como, por exemplo, prender os cortinados da sala. Com base na reutilização dos objectos, surge a ideia de realizar um tapete em caramelos, doces tradicionalmente adquiridos por portugueses nas suas viagens a Espanha, a partir de um pequeno pano de renda feito pela mãe da autora.

Título: “Ama de Casa”
Ano: 2004
Dimensões: 2mX2m
Materiais: Caramelos, cordão e arame


Uma rede de soluções, 2004


























Sobre o projecto
«Um projecto desenvolvido a partir da empresa Phaldata, uma empresa de sistemas de comunicação dividida por vários sectores, desde a oficina, onde se arranjam computadores, passando pelo armazém, onde se encontram as peças que constroem todo o sistema informático, até ao gabinete do director, no primeiro andar. Em “Uma rede de soluções” são fotografados alguns desses espaços – uns aparentemente mais interessantes do que outros – assim como os lugares que as secretárias e os executivos ocupam. No final, a autora optou por centrar a sua atenção no armazém da Phaldata, lugar à partida inacessível a quem está de visita, mas que acaba por revelar-se fundamental na dinâmica da empresa.»

Título: “Uma rede de soluções”
Ano: 2004
Dimensões: 0.53mX0.80m e 0.46mx0.70m
Material: Fotografia
“Uma rede de Soluções”foi comissariada por Luísa Soares de Oliveira, na sala Phaldata.


Campo mártires da pátria 2005


























Sobre o Projecto
Uma casa apenas com os vestígios do que em tempos foi a vivência desse espaço. Uma família desconhecida, como desconhecidas são também as ‘estórias’ de quem ali habitou. A partir do acesso ao que restou dessas existências – o espaço em si, os objectos, os livros, as revistas, os jornais – a autora cria ‘a sua ideia’ da família que pode um dia ter habitado esta casa. Entre um número infinito de jornais, destaca-se uma série de revistas femininas, como “Crónica Feminina” (publicação em tempos considerada fundamental para a educação das mulheres), e livros como “O Vício Conjugal”, onde se fala sobre as relações sexuais que não têm como objectivo procriar, entendidas ali como relações tão criminosas quanto o aborto em si mesmo. Construir a identidade de uma família a partir do espaço por ela habitado foi a principal motivação da autora.

Título: “Campo Mártires da Pátria, nº 100, 1º Dto”
Ano: 2005
Dimensões: Variáveis
Material: Diapositivos

S/t 2006



























Sobre o projecto
«Uma questão portuguesa que podia ser uma preocupação de todos e não apenas do sexo feminino, desde sempre penalizado por lei, o aborto continua ainda hoje a ser motivo para condenar mulheres e intervenientes responsáveis em Portugal. Nesta situação nunca houve nenhum tipo de evolução ao longo dos tempos em Portugal. “O aborto causas e soluções” enuncia que entre 1912 e 1923 o numero de condenações não chegou a dez, embora tenha depois aumentado, em 1923 -1930 houve no total vinte condenações. A legislação para o aborto continuou a condenar as mulheres durante o Estado Novo, quem levasse uma mulher grávida a abortar com ou sem o seu consentimento, seria punido com pena de prisão entre dois a oito anos, esta pena era aplicada ao médico, cirurgião ou farmacêutico e á mulher que abortasse voluntariamente, contudo, em Portugal nos ultimos anos, mais especificamente desde 2002, com o julgamento de uma enfermeira e dezassete mulheres na Maia, retomou-se um ritual existente á algumas décadas atrás. Apesar de nos encontrarmos no séc. XXI, Portugal continua a condenar mulheres, enfermeiras e médicos que se envolvem na realização de abortos, resultantes da consciência individual. Curiosamente a lei que vigora em Portugal e que permite a realização do aborto mediante algumas excepções, é praticamente idêntica à que vigora em Espanha. As excepções são: em caso de violação, em caso de perigo de vida para a mulher, má formação do feto e se estiver em risco a saúde mental da mulher. Leis semelhantes, pressupostos idênticos, nos jornais portugueses anunciam-se as clinicas que realizam abortos em Espanha, porque ai o risco de serem julgadas e acusadas é menor. Contudo as mulheres espanholas, não correm esse risco e deslocam-se a Inglaterra. Portugal e Espanha foram durante muitas décadas regimes ditatoriais, “aprenderam” desde tenra idade o que são os valore patriarcais. Como se deve comportar uma menina e um menino, qual a posição do homem e da mulher no casamento, a função do pai e da mãe dentro da família. Tudo isto leva a que em ambos ao países permaneçam uma serie de resquícios resultantes desse período, o aborto, pode ser um dos muitos que encontramos em Portugal e Espanha. Acreditamos que em nome do bem da nação devemos preservar a vida, porque é realmente um bem precioso, mas à que ter em conta as condições em que se concebe uma vida, será coerente trazer ao mundo uma criança para a dar para adopção? Será coerente trazer uma criança ao mundo sem condições para a criar? Será coerente trazer ao mundo uma criança em que a mãe não se sente preparada para o ser? Estas são algumas das questões que me coloco, não querendo definir o que é correcto ou incorrecto, bem ou mal, mas sim o que é de domínio publico ou privado com que direito julgamos e condenamos alguém por ter livre arbítrio sobre o seu corpo? Quantas mulheres estariam presas por o terem praticado?
Contudo no decorrer do projecto um dos principais pontos que me interessou desenvolver na instalação é a relação que se estabelece entre o espaço privado e o espaço publico. Pois as mulheres que passam pela experiência de realizar um aborto clandestino em Portugal veem muitas vezes a sua privadicade invadida por uma moral conduzida pela religião. Que define o que é o certo ou o errado, o bem e o mal preservando e cultivando que o livre arbitrio sobre o corpo da mulher grávida pode ser criminoso qd esta decide que não pode ter uma criança seja por que motivo for. A instalação é dividida em duas partes; uma delas o que se supõe ser um espaço exterior á casa, um poço que é construido com os sacos (ou sacas) usados para construir trincheiras, ou para proteger as casas das cheias. Ao lado deste poço existe um balde construido com enemas, objectos utilizados para realizar abortos clandestinos pelas intituladas “tecedeiras de anjos”, como a que vemos no filme “Vera Drake” realizado por Mike Leigh. Na outra parte do espaço existe um tapete, estamos num espaço interior, um espaço privado onde tb temos acesso ao espaço privado do ac, a cozinha. E aqui, ao lado da cozinha existe um tapete, no que se supõe ser a sala, feito em tesouras. Um tapete que normalmente é usado para dar conforto ao lar aqui é usado (quase) como uma “armadilha”.

Materiais: Enemas, tesouras, sacos e areia.
Dimensões: Variáveis


S/t 2006














































[todas as fotofrafias e textos foram cedidas pela artista # Célia Domingues]