28 dezembro 2006

3+3 na Galeria Sete - Coimbra

A GALERIA SETE inaugurou no dia 16 de Dezembro a exposição “3+3”, apresentando propostas distintas para cada um dos pisos da galeria.
No primeiro piso podem ser vistas obras de três artistas que expõem neste espaço pela segunda vez: Célia Domingues, Miguelangelo Veiga e Pedro Falcão. Da instalação ao vídeo, da pintura ao desenho, exploram-se conteúdos tão distintos como as relações de género ou as fronteiras híbridas entre o desenho e a pintura, expressas num imaginário em torno da paisagem urbana e suburbana e de universos de energias não controladas.

No piso inferior, o projecto de intervenção artística “Ficha Tripla” pretende interagir com o público e com o espaço expositivo. João Galrão, Pauliana Valente Pimentel e Susana Guardado exploram o conceito de “Evento Social”, os seus significados e as suas fronteiras com a arte, integrando uma performance musical ligada às novas tecnologias, escultura e fotografia.


Célia Domingues


Strategie de la Rupture. Ditos e Interditos de um Divórcio,
2006

Canas, rolhas, câmaras de ar, vidro, papel, madeira
45 x 220 x 190 cm



“O tema do divórcio é áspero, tem arestas. Sugere mal-estar, sofrimento. Representa o oposto da ideia positiva associada ao enamoramento e à paixão. Significa o fim de uma promessa, de um projecto, da partilha de um ciclo de vida”.
Anália Cardoso Torres


“Cortar amarras. Uma tentativa de compreensão da realidade”

Casamento, compromisso, acordo, união, partilha, divórcio, ruptura, irresponsabilidade, falha, desunião são alguns dos conceitos explorados por Anália Cardoso Torres no livro “Divórcio em Portugal, Ditos e Interditos: uma Análise Sociológica”e que serviram de ponto de partida para o projecto “Strategie de la Rupture. Ditos e Interditos de um Divórcio” de Célia Domingues. Ao longo da investigação, a socióloga foi realçando o papel dos silêncios, daquilo que não se diz e que designa de zonas opacas, em que cada uma das partes encerra os momentos que se prefere não partilhar. Estes interditos ou zonas cinzentas em que não existe a claridade dos factos são espaços circunscritos onde se aglutinam sentimentos opostos e se encobrem angústias. Esta noção de silêncio auto-incutido assume na instalação de Célia Domingues o formato de uma jangada unipessoal, nela só um dos dois se poderá sentar. Trata-se uma estrutura de sobrevivência para quem deseja começar da estaca zero. A jangada assume-se como suporte possível para a fuga. Sobre todo o processo, o espectador acede apenas ao título da instalação. A construção que daí poderá surgir conduzi-lo-á a analogias neo-românticas - a mensagem de amor que é lançada ao mar. Mas aqui, essas mensagens são privadas e estão sobre a jangada interditas ao olhar curioso. Não se tratam de supostas mensagens de amor, mas de elementos de esperança, neste momento inacessíveis para que um dia alguém possa perceber o que se passou.


Miguelangelo Veiga


Miguelangelo Veiga
2006

Grafite e tinta-da-china sobre papel


Encenado no espaço galeria como no seu próprio atelier Miguelangelo Veiga parte de formas, sombras e textos, fruto de investigação visual e literária para desenhar um percurso
que o conduz às pinturas que apresenta como parte deste projecto. Texto e desenho assumem igual importância. Ambos funcionam como base da informação que conduz à pintura. O desenho é o processo, uma espécie de manual daquilo que é a pintura para Miguelangelo. A depuração surge depois, como fórmula de acessibilidade para quem observa a instalação. Um olhar atento detectará incorrecções de perspectiva que são intencionais e descontraídas. Para o autor, as formas correctas, as que seguem as leis da perspectiva ou quaisquer outras normas impositivas são um beco sem saída e é muito mais interessante desenvolver um percurso a partir de um suposto erro de observação, do que lidar com pretensas formas perfeitas. A desconstrução e descaracterização presente, parte do volume tridimensional para além da forma plana, num processo em si mesmo circular. Não se trata da representação de plantas, como à primeira vista poderá parecer, são antes apontamentos da planificação do interior dessas formas tridimensionais.

Pedro Falcão

Pedro Falcão ST18 (da série Expulsão de Energia), 2006
Tinta de água s/ tela
210 x 160 cm













Se nas pinturas anteriores de Pedro Falcão o espectador era confrontado com um ambiente arquitectónico, formalmente minimalista, uma observação mais atenta conduzia ao reconhecimento da existência de pormenores construtivos que o autor identificava com letras do alfabeto. Nesse caso, os títulos das obras podiam ajudar a fazer a leitura. Letterscape – Paisagem de Letras (da série KBT) é um bom exemplo. O carácter formal e o modo como se sobrepunham e interceptavam as letras pintadas numa mesma cor sobre o que aparentava ser uma linha de horizonte insinuava esse mesmo engano. O trabalho que agora apresenta é muito diferente desta geometria tipográfica rigorosamente delineada. A contenção a que este trabalho obrigava levou o artista e enveredar por uma diferente opção onde a explosão das energias, anteriormente contidas, é sobremodo visível. A linearidade deu lugar à sinuosidade irregular, o carácter plano das superfícies à rugosidade empastada dos materiais. As referências são as mesmas, mas a analogia surge agora de forma mais diluída.

Ficha Tripla
Susana Guardado/João Galrão e Pauliana Valente Pimentel

Ficha Tripla é um projecto que começou a desenhar-se há cerca de um ano, mas que apenas nesta exposição ganhou corpo. O elemento central é o conceito de happeninig que os três artistas com projectos distintos apresentam.

Pauliana Valente Pimentel
Pauliana Valente Pimentel
S/ título (da série Finalmente), 2006
Impressão digital sobre papel fotográfico
32 x 42 cm


Fotografa documental, apresenta com este projecto um olhar sobre a performance de travestis na discoteca Finalmente em Lisboa. À fotografa interessa não o lado decadente que esta actividade possa sugerir e que normalmente é explorado pelos média, mas o lado "bonito", glamouroso, o ritual da transformação. O contacto frequente com o meio levou-a a criar uma ligação de maior intimidade com algumas destas personagens. Esta relação de fascínio deu-lhe acesso não apenas ao palco, mas aos bastidores, à intimidade familiar e domestica, à sensibilidade, ao dia-a-dia, que fotografou sem saturar as personagens.

João Galrão

João Galrão
S/ título (da série Afterhours), 2006
Esferovite, gesso, gaze médica, massa mineral, plástico
(tampas e caricas), esmalte, verniz acrílico e luz
100 x 70 x 20 cm








Quando expôs individualmente pela última vez na Galeria Graça Brandão falei da dimensão discursiva das formas e que essa discursividade se prendia com o universo musical. Na exposição realizada
em Vila Nova de Cerveira – After Hours em 2005, as peças de Galrão tinham ganho uma estridência psicadélica e a luz que reflectiam foi sincronizada ao ritmo de músicas seleccionadas pelo autor. Seguindo esta mesma linha de intervenção, João Galrão apresentou na Sete After Hours com a mesma estridência psicadélica que conjugou com a performance musical encenada por Susana Guardado.



Susana Guardado
(da série Sign your name across my heart), 2006
Chumbo e tecido
25 x 25 x 15 cm

O projecto de Susana Guardado mantém o observador, que aqui ganha estututo participativo, no universo da música. A performance musical que apresentou aglutinou todos os projectos presentes no piso -1 da Sete. Na sua instalação, os corações colocados sobre almofadas delicadamente reflecte a importância da música como um dos elementos essências da sua vivência. Neles foram gravados alguns dos títulos de músicas que marcaram a discografia do século XX: Summertime, Bang Bang, Edelweiss, etc.


Links com interesse:

http://www.joaogalrao.blogspot.com/

http://www.artecapital.net/criticas.php?critica=38

http://afrontamentos.multiply.com/

http://www.lightstalkers.org/paulianavalentepimentel

http://www.programacriatividade.gulbenkian.pt/arquivo_fotografia_detalhe.asp?id=pauliana_valente_pimentel&num=39&area=arquivo

www.myspace/paulianaphotographer.com

http://www.pedrofalcao.com/


Créditos Fotográficos

Todas as fotografias são da autoria de Ana Luísa Barão exceptuando
as fotografias de Pedro Falcão e "Slow motion" de João Galrão que foram cedidas pela Galeria Sete e
as fotografias
da série "Finalmente" de Pauliana Valente Pimentel cedidas pela própria artista
as fotofrafias de Célia Domingues foram cedidas pela própria artista

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