05 junho 2006

João Vieira, ABÊCÊ, Pavilhão Centro de Portugal até 16 Julho 2006

Abstract

«Abandonemos por um momento a preocupação de identificar,
de reconhecer, para que a forma que também está em nós se descubra»
João Vieira, 1979

Dando continuidade ao protocolo que a Fundação de Serralves estabeleceu com a Câmara Municipal de Coimbra, inaugurou no dia 20 de Maio no Pavilhão Centro de Portugal a exposição ABÊCÊ de João Vieira.
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Exemplo deste processo permanente de construção formal e técnica é o projecto M.A.R. – 3 letras (7 elementos). Pensado em 1970 como uma intervenção pública, não teve até hoje concretização na dimensão em que foi projectado. Foi, no entanto, apresentado em Serralves em 2002 e agora reencenado no exterior do P.C.P. numa escala inferior à inicial. Foram criadas três bóias em poliuretano fibrado, pintadas com tinta de automóvel (no projecto inicial mediam cerca de dez metros) que configuram as três letras que ludicamente ordenadas constituem a palavra “mar”. As enormes letras foram lançadas como dados num tanque especialmente concebido para o efeito. A este projecto não são estranhas as referências à história marítima das viagens míticas dos descobrimentos portugueses e à relação íntima que esta aventura engendrou com a epopeia literária nacional.
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No interior do Pavilhão dois espaços distintos caracterizam a exposição. No primeiro piso, em duas salas diversas, dois vídeos. O primeiro é uma compilação de três acções-espectáculo: Expansões (1971), Incorpóreo I (1972) e Mamografia (1981).
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Nas obras mais recentes, João Vieira alia as suas pesquisas anteriores – onde as letras e a pintura enquanto signo e significante se assumem como o centro do intenso experimentalismo que sempre caracterizou a sua produção – às tradições populares[1].
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ABÊCÊ (2006), instalação e performance especialmente concebida para este espaço, e que ocupa todo o piso térreo do Pavilhão, insere-se precisamente no universo etnográfico das tradições populares infantis. A instalação é composta por uma gigantesca e labiríntica estrutura de madeira onde foram afixadas – depois de recortadas sobre papel – todas as letras do alfabeto. Ao centro, abre-se uma clareira onde foi colocado um poço com celulose. A simbologia da floresta e do ciclo de vida do papel associam-se à própria nomenclatura do projecto – ABÊCÊ - muitas vezes associado não só à aprendizagem da cartilha mas também à noção abreviada de biografia. No dia da inauguração, esta instalação serviu de cenografia a uma performance onde o próprio artista assumiu a direcção de uma cartilha de jogos (da macaca, o salto do elástico, o saltar à corda, da apanhada, a cabra cega, etc.), cantigas de roda e lengalengas infantis executados por um corpo de jovens bailarinas que ludicamente seguiam as orientações do mestre e da sua batuta.

[2] Exemplo destas pesquisas são os Caretos de Trás-os-Montes.

O texto integral pode ser consultado na revista on-line ARTECAPITAL para a qual foi escrito http://www.artecapital.net/criticas.php?critica=31


As fotografias são da autoria de Ana Luísa Barão































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